Desde que eu me entendo por gente, eu sempre tive muito medo de morrer.
Lembro de um momento meu quando eu tinha uns 7 anos de idade, no carro com os meus pais, sentada na minha cadeirinha, olhando pela janela quando eu comecei a pensar: “Hmm, o que será que acontece depois que a gente morre?”. Por que uma criança de aproximadamente 7 anos estava pensando sobre isso? Eu também não sei! Só sei que quanto mais eu pensava sobre o assunto, mais desesperada eu ficava. Lembro que em algum momento eu comecei a chorar tentando não fazer barulho porque não queria que meus pais percebessem. E aí foi o começo de tudo.
A partir desse dia, eu fiquei apavorada com a ideia de morrer. Qualquer dorzinha que eu sentia na minha cabeça era fruto de alguma doença grave que com certeza ia me matar.
Um dia, dessa vez quando eu tinha uns 9 anos de idade, eu senti uma dor no peito (era gases) e cometi o maior erro que uma pessoa poderia cometer em uma situação assim: fui pesquisar no Google o que poderia ser. O Google, nem um pouco alarmista, me disse que era um infarto. Então um outro site nem um pouco confiável me disse que os sintomas podiam aparecer até 3 meses antes do infarto e eu pensei “É isso! Vou morrer daqui a 3 meses!”. Lembro de entrar no aplicativo de calendário do celular pra ver que dia seria a minha morte e lembro até hoje da data: 18 de outubro.
Vivi 3 meses da minha vida tendo a certeza de que eu iria morrer no dia 18 de outubro. Toda noite eu ia dormir mandando mentalmente o meu coração bater, porque, na minha cabeça, se eu lembrasse o meu cérebro disso, ele não iria fazer o meu coração parar de bater enquanto eu dormisse.
Lembro que algum dia nesses 3 meses de espera pela minha morte eu contei pra minha mãe que eu estava com algum problema no coração e ela teve que me levar pra fazer uns 4 exames diferentes pra me convencer que não tinha nada de errado e que eu estava 100% saudável. Mesmo assim, eu não me convenci. Só acreditei que não tinha nada de errado quando eu acordei dia 19 de outubro e eu ainda estava viva.
As vezes eu sentia que a morte estava sempre ali, me cercando. Por exemplo, a série favorita da minha mãe é Grey’s Anatomy, uma série com uma taxa exageradamente alta de mortes por episódio. Eu sentia que toda vez que eu ia pra sala e minha mãe estava assistindo essa série eu sempre chegava em uma cena onde alguem estava morrendo. Parecia um aviso. Um constante lembrete que aquele era o meu destino. Que eu iria morrer.
Conforme eu cresci, esse medo continuou comigo. Não sei se foram os inúmeros filmes e séries que eu assisti e livros que eu li envolvendo essa temática que de algum jeito conseguiram me tranquilizar um pouco ou se eu simplesmente fiquei mais velha e mais sábia, mas de algum jeito eu sinto que aprendi a lidar melhor com ele.
Não me levem a mal, ele continua comigo. Ainda tenho momentos em que eu sinto uma dorzinha aqui ou ali e me pergunto se não é algo grave. As vezes eu me pergunto como a morte não é simplesmente o maior medo de todo mundo. Tipo, é a única certeza que a gente tem na vida e não tem ninguém pra nos explicar como ela é, como isso não te assusta?
Aí eu comecei a pensar: se a morte é a única certeza que eu tenho na vida, não é melhor aproveitar enquanto ela não chega? Se eu posso morrer amanhã, eu deveria estar aproveitando o meu hoje o máximo possível e não me remoendo de medo com a remota possibilidade de morrer amanhã.
É clichê, mas é verdade!
Lembrei de quando eu tinha certeza que eu só tinha mais 3 meses de vida. Eu passei 3 meses preocupada, pensando em como seria a morte enquanto a única coisa que eu sabia era que eu ia morrer. Eu deveria ter aproveitado esses 3 meses, não? Ter brincado de boneca todo dia com a minha melhor amiga que morava no mesmo prédio que eu, ter jogado o meu Just Dance 2015 o máximo possível, ter implorado pra minha mãe me levar na piscina em todos os dias de sol e tudo mais. Por mais que eu tenha feito essas coisas algumas vezes durante esses 3 meses, havia sempre uma vozinha dentro da minha cabeça me lembrando que eu ia morrer e essa vozinha não me deixava aproveitar esses momentos mesmo eu acreditando que poderia ser a última vez que eu estava fazendo aquilo.
Nós, seres humanos, temos uma noção filosófica e abstrata da morte que nenhum outro animal tem. Estamos no topo da cadadeia alimentar, então não precisamos nos preocupar com algum animal surgindo do nada pra nos matar. Com os avanços na ciência e na tecnologia, a tendência é nossa expectativa de vida aumentar cada vez mais. Será que, nessas condições, vale a pena viver se preocupando com a morte?
Óbvio, não quero que você saia por aí atravessando uma rua movimentada enquanto o sinal estiver aberto achando que é imortal, porque você sabe muito bem que não é.
Mas ter essa consciência que só os seres humanos tem da efemeridade da vida e de que ela pode acabar a qualquer momento nos tornam capazes de aproveitar ao máximo enquanto ela dura.
Não se desespere pensando em quando ou como você vai morrer. Aceite que, uma hora ou outra, vai acontecer e você não tem controle sobre isso.
A morte é o nosso destino. Temos duas opções: sentar e esperar esse destino chegar ou viver o máximo possível até lá.
Eu escolho a segunda.
Nossa, simm. É vdd que nós humanos temos uma visão doentia sobre a morte e para mim, os dois extremos são assustadores. Tanto em pensar que a única certeza que nós temos é que vamos morrer a qualquer dia e também, já pensou se vivêssemos para sempre? Com certeza não seria agradável, afinal não teria sentido termos objetivos o que já é difícil de se ter mesmo estando em risco de morte dentre várias outras coisas, chega dá uma agonia só de pensar em viver para sempre. Seria horríveeel igualmente
Então a morte meio que traz sentido à vida. Muito lindo isso